Serra da Saudade lidera posição em número de servidores por habitantes. Quem não trabalha na Prefeitura procura emprego em áreas rurais.
27 de agosto de 2015
Na menor cidade do país, Serra da Saudade, que tem atualmente 822 habitantes segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os moradores têm a Prefeitura como principal fonte de renda: 212 pessoas são empregadas pela administração e ganham, em média, um salário mínimo e meio. O número equivale a 25,8% dos moradores. Segundo a prefeita, Neusa Maria Ribeiro, a agropecuária aparece em segundo lugar como geradora de empregos, com predominância para a pecuária, principalmente gado de corte.
Pela falta de empregos na cidade, a maior preocupação dos pais é de como os filhos irão ingressar no mercado de trabalho. Marcos Cardoso, de 34 anos, é coordenador do Telecentro do município e a esposa dele, Patrícia Helena, também é servidora municipal. Eles têm três filhos, de 13, 11 e seis anos. Questionado sobre o que espera para o futuro dos filhos, Cardoso não hesitou: “Espero que eles tenham oportunidades em cidades maiores, porque aqui não tem emprego”, afirmou.
Cardoso é formado em administração de empresas e fez o curso à distância com o método semipresencial. Foi exatamente a graduação que permitiu seu crescimento profissional dentro da Prefeitura, onde ele já trabalhava como serviços gerais. “Antes da Prefeitura, comecei na agropecuária, trabalhava na roça tirando leite, cuidando de gado. Aí, depois, fui contratado na Prefeitura e fazia limpeza na rua, capinava. A faculdade me permitiu conseguir um cargo melhor e com um salário melhor”, disse.
O vaqueiro João Inácio, de 44 anos, trabalha em uma fazenda que fica a 1 km da cidade. Há 20 anos, ele foi funcionário da Prefeitura, mas deixou o cargo de assistente de obras porque, segundo ele, o salário como vaqueiro é melhor. “Tive condições de ganhar mais nas fazendas. Hoje ordenho as vacas, cuido de gado, faço na verdade de tudo um pouco, mas ainda assim continuo morando em Serra da Saudade”, afirmou.
A baixa oportunidade de trabalho é apontada pelo secretário da Educação, Ivan Hernane de Oliveira, como fator determinante na saída dos jovens da cidade. “Infelizmente há pouco interesse do setor privado em trazer empresas para Serra da Saudade, por ser uma cidade que tem pouca mão de obra qualificada. É preciso que a juventude corra atrás de um futuro melhor", diz ele.
Sem crise
Se a Prefeitura é a maior empregadora, consequentemente a folha de pagamento dos servidores representa o maior gasto do Executivo. Segundo a prefeita, Neusa Maria, são gastos 43% da arrecadação. "Todos os serviços prestados na cidade, como uma academia e dentistas, são custeados pela administração", afirmou.
Quanto à crise econômica, ela ainda não chegou na Serra da Saudade. Em sete anos nenhum funcionário foi demitido ou teve os salários atrasados. “Estamos conseguindo manter o equilíbrio financeiro, não há contas atrasadas. Só saem de seus cargos pessoas que se aposentam ou pedem para sair, aí sim substituímos”, contou a prefeita.
A cidade
Fundada em 1963, Serra da Saudade tem 335 km quadrados de extensão territorial, o mesmo tamanho da capital Belo Horizonte. As casas não são muradas, os carros dormem nas ruas, que são 5, e as janelas amanhecem abertas quando está calor. Os moradores se orgulham da tranquilidade. “Aqui é um pedacinho do céu, não penso em deixar esse lugar hora nenhuma”, afirma a dona de casa Sabrina Gonçalves, de 25 anos.
Em Serra da Saudade não há posto de gasolina, nem farmácia. Há um posto de saúde onde há atendimento e distribuição de remédios. Quem precisa abastecer, vai até a cidade mais próxima, Estrela do Indaiá, que fica distante 15 km.
Já academia, clube e nutricionista são gratuitos. A internet é via rádio e funciona nas casas após a compra de uma antena e um cadastro na prefeitura.
Eleição
A prefeita Neusa Maria foi eleita em candidatura única na última eleição e se orgulha das vantagens da cidade pequena. Apesar de enfrentar problemas administrativos, ela ressaltou que consegue lidar de perto com as necessidades básicas de cada morador. “Eu conheço cada um neste lugar e me disponibilizo a ajudá-los da melhor maneira possível. Os moradores têm meu telefone celular particular, faço questão de atender a todos os chamados, quando não atendo eu retorno", afirma.
Fonte: G1 - Centro-Oeste - MG