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'Macaúba é o novo ouro brasileiro', diz pesquisador da UFV em MG

A mais valiosa das utilidades é a extração do óleo para o biocombustível. Petrobras é uma das maiores financiadores de pesquisas com a planta.

02 de dezembro de 2014



A macaúba é uma palmeira nativa brasileira (Foto: UFV/Digulgação)

No início dos anos 2000, a partir do Programa Nacional de Uso e Produção de Biodiesel, verificou-se que a macaúba era uma das espécies de planta mais promissoras para a produção de biodiesel e bioquerosene - fontes de energia limpa. Mas o furor inicial passou e o interesse diminuiu. Contudo, com a retomada das discussões sobre aquecimento global e desenvolvimento sustentável, a palmeira nativa do Brasil voltou a tomar espaço nas discussões sobre alternativas de uso de energia. Para o professor e cientista da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Sérgio Yoshimitsu Motoike - que pesquisa a planta desde 2005, a macaúba, hoje, pode ser considerada o novo ouro brasileiro. Tanto que a Petrobras é a maior financiadora das pequisas da unviersidade em relação à planta.

"O aquecimento global é uma realidade reconhecida neste ano, inclusive pelos grandes emissores de gases do efeito estufa, como a China e os Estados Unidos. Mudanças climáticas são percebidas em diversas regiões do mundo, inclusive no Brasil, que passa pela maior seca dos últimos anos. O mundo busca soluções para sustentabilidade do planeta e a macaúba pode se tornar uma dessas soluções, e de grande impacto. Ela poderia ser cultivada em mais de 160 milhões de hectares ocupados atualmente pela pastagem (pecuária). Só em Minas Gerais seriam 25 milhões de hectares. Nessa área pode-se produzir de quatro a seis toneladas de óleo por hectare a cada ano, que pode ser a matéria-prima do biodiesel e do bioquerosene. Já imaginou quanto biodiesel e bioquerosene poderíamos produzir no Brasil? O petróleo é considerado o ouro negro. Já a macaúba pode ser o petróleo renovável cultivado nos campos brasileiros, o ouro", avaliou o professor.

Para Motoike é fácil traduzir em números o potencial econômico da macaúba. "Só em Minas temos 25 milhões de hectares de pastagem. Se a macaúba produz de quatro a seis toneladas por hectare, isso signfica que são 100 a 150 milhões de toneladas de óleo por ano. E se o óleo for comercializado a R$ 1 mil a tonelada teríamos entre R$ 100 bilhões e R$ 150 bilhões de faturamento. Isso só em Minas Gerais. Sem contar os outros produtos que podem ser advindos da macaúba", explicou.


O óleo do fruto da macaúba serve de matéria-prima para o biodiesel (Foto: UFV/Digulgação)

Quando fala em "outros produtos", Sérgio Motoike refere-se às mil e uma utilidades da palmeira. Ela também pode servir de matéria-prima para produtos de tratamento capilar; os frutos são comestíveis (a torta da amêndoa da macaúba, por exemplo, tem de 25% a 30% de proteína); o endocarpo do fruto (parte dura do coco) é matéria-prima de alto valor para a produção de carvão ativado utilizado em filtros (também pode ser empregado em siderurgia); suas folhas são forrageiras e possuem fibras têxteis que podem ser utilizadas na confecção de redes e linhas de pesca, por exemplo.

Mas por quê uma planta tão promissora foi tão negligenciada no passado? Segundo o pesquisador da UFV, um dos motivos, e seguramente o mais importante, é que não se conseguia promover a propagação do cultivo. "As sementes apresentavam demência e não germinavam, o que frustrava as tentativas do cultivo agrícula", comentou Motoike. E foi aí que cientista e equipe entraram para reverter a situação. Em 2005, logo após o lançamento do Programa de Uso e Produção de Biodiesel, a Universidade deu asas às intensões da equipe, que conseguiu reverter o problema da germianção das sementes, possibilitando o cultivo.

"O nosso grupo de pesquisa se concentra na área agrícola. Transformar uma planta selvagem como a macaúba em uma planta agrícola domesticada requer um trabalho coordenado das diversas áreas da agronomia. Buscamos desenvolver desde variedades através do melhoramento genético, adubação, controle de praga e doenças à colheita e pós-colheita da macaúba", explicou Motoike, revelando que a maior financiadora das pesquisas é a Petrobras. "Ela (Petrobras) tem interesse na planta para a produção de biodiesel. Contudo, outras empresas, como a europeia Sky Energy, fornecedora de combustível de aviação, buscam informações para a produção de bioquerosene", revelou.

Na Zona da Mata, as primeiras plantações de macaúba aconteceram em Lima Duarte. Mas a empresa que iniciou o plantio, a espanhola Entaban, faliu com a crise em 2009 e, por isso, os investimentos foram interrompidos. Atualmente, segundo Motoike, outras empresas como a Acrotech e a Soleá investem na cidade de João Pinheiro, no Noroeste de Minas.

Para o pesquisador de Viçosa, a palmeira representa sem dúvida o futuro ligado à sustentabilidade. "Considerando a versatilidade e a alta produtividade dessa espécie, quanto os diversos produtos que ela pode produzir e à necessidade de o mundo de se tornar cada vez mais sustentável, acredito que a macaúba é a bola da vez. Nós brasileiros devemos aproveitar a oportunidade que se abre para crescer, desenvolver e se tornar cada vez mais sustentável", destacou.


Cada hectare de plantação produz de 4 a 6 toneladas de óleo para biodiesel (Foto: UFV/Digulgação)

Cadeia extrativista da macaúba

Em recente entrevista na cidade de Dores do Indaiá, no Centro-Oeste de Minas, o secretário de Desenvolvimento de Minas Gerais, Rogério Nery, reconheceu o poder da macaúba e ressaltou que este é um momento histórico para a produção de energia limpa no Brasil e em Minas Gerais. “Isso vai transformar o campo em produção de combustível ecologicamente correto, atendendo as necessidades do mercado mundial. Hoje, na aviação é uma regra que tem que ser cumprida e o volume de combustível a ser consumido é muito superior a condição que o país tem de produzir”, afirmou.

E mercado para isso o governo do estado garante que já existe. “Nós temos que começar a produzir as primeiras toneladas para exportar. Países como Holanda e Alemanha têm refinarias para este tipo de óleo e podem ser as principais consumidoras”, finalizou Nery.

Fonte: G1 - Zona da Mata - MG